Por que considerar os ensinamentos tradicionais do Ayurveda se a medicina ocidental nos oferece avanços e descobertas diárias? Por que substituir a facilidade da farmácia pelo tempo na cozinha?
Costumamos conceituar Ayurveda como o “conhecimento da vida”. Conforme Characa Samhita (s/d), “ãyus” significa a combinação entre corpo, sentidos, mente e espírito, ou seja, a vida; e “veda”, da raiz vid, significa conhecer ou sabedoria revelada (NINIVAGGI, 2015). Para o Ayurveda, toda vida material é organizada pela combinação entre corpo, mente e espírito. Os sentidos, com seus objetos, integram o corpo; buddhi (conhecimento) e ahamkãra (ego) constituem o espírito e a mente coordena as atividades do corpo.
Podemos dizer que o sistema ayurvédico, que deriva das tradições dos antigos rishis (sábios) hindus, é mais do que uma tradição médica indiana, pois envolve ações, escolhas e valores que configuram um estilo de vida que busca alcançar e manter estados de saúde no corpo, na mente e no espírito. O Ayurveda delineia possibilidades de viver e de abordar diversos aspectos do autodesenvolvimento: autoquestionamento, autorrealização e auto-organização. Neste sentido, somos chamados a assumir as responsabilidades e as tarefas de cuidado e de monitoramento do nosso bem-estar.
No livro Ayurveda: saúde e longevidade na tradição milenar na Índia, o Dr. Danilo Maciel Carneiro explica que, para esta tradição, “[…] uma pessoa sadia é aquela que apresenta equilíbrio dos princípios vitais (doshas) e das enzimas metabólicas e digestivas (agnis), além de um adequado funcionamento dos tecidos (dhatus), dos produtos secundários do metabolismo (catabólitos) e das excretas orgânicas (malas), e que experimenta a felicidade no espírito, nos sentidos e na mente” (CARNEIRO, 2009, p.24). Ou seja, a abordagem ayurvédica do ser humano é integral, voltada para a pessoa em sua globalidade e complexidade. Por isso, tem por objetivos “preservar a saúde das pessoas saudáveis e prevenir as doenças; promover e lapidar a saúde das pessoas saudáveis e contribuir para a rearmonização das pessoas enfermas” (idem, p. 25)”.
Nesta perspectiva, os ensinamentos referentes à nutrição (annapanavidhi) se baseiam em experiências empíricas de manutenção da saúde de milhares de anos, tendo como objetivo fornecer ao indivíduo substâncias nutritivas que mantém a vida, reabastecendo os 5 grandes elementos densos do corpo; reequilibrando os doshas e usando os sabores (rasa) dos alimentos e substâncias para tratar desequilíbrios, distúrbios e doenças. Os alimentos não apenas nutrem o corpo, são remédios!! Por isso, a seleção individualizada de alimentos (anna) e qualidades de sabor (rasas) é uma das modalidades terapêuticas do Ayurveda.
A nutrição diária compreende a escolha, o preparo e o consumo (incluindo a digestão e a excreção) de alimentos adequados à constituição de cada pessoa (prakruti), idade, necessidades e estações do ano. Embora seja particular a cada indivíduo, podemos delinear algumas orientações gerais para a saúde e o equilíbrio:
- A dieta apropriada inclui os seis sabores (doce, ácido, salgado, picante, amargo e adstringente), distribuídos de maneira apropriada à constituição de cada pessoa.
- Rotina e dieta equilibrada (moderação). O Ayurveda recomenda que 2/4 da capacidade do estômago deva ser preenchida com alimentos sólidos, ¼ com líquido e ¼ vazio para acomodar o ar, importante para os movimentos de digestão. Isso não significa, porém, que é recomendado o consumo de líquidos com a comida. Se você está consumindo um feijão com caldo ou uma sopa, você já incluiu esta quantidade de líquidos. Caso esteja consumindo uma refeição muito seca e sinta necessidade de consumir líquidos, opte por água ou chá e não refrigerantes ou sucos gelados e doces.
- Os alimentos devem ser consumidos, preferencialmente, frescos, mornos ou quentes, pois o cozimento maximiza a digestibilidade.
- A maior refeição do dia deve ser entre 12h e 14h.
- Nenhum alimento deve ser ingerido enquanto a refeição anterior não tiver sido digerida, ou seja, espere o sinal do corpo! Espere a “barriga roncar”! Não sobrecarregue o seu organismo com uma quantidade de alimentos que não tem condições de digerir!
- Consuma frutas separadamente, ou seja, no lanche.
- Evite misturar no preparo ou na refeição, leite ovos e farinhas, pois dificultam a digestão.
O Ayurveda ensina que cada indivíduo tem o poder de se reequilibrar. Portanto, nos ajuda a compreender e a re-estabelecer a saúde por meio da compreensão do corpo, da mente e do espírito e das suas necessidades.
Referências:
NINIVAGGI, Frank John. Saúde integral com medicina ayurvédica: o guia completo para os ocidentais da mais tradicional escola médica indiana. São Paulo: Pensamento, 2015.
CARNEIRO, Danilo Maciel. Ayurveda: saúde e longevidade na tradição milenar na Índia. São Paulo: Pensamento, 2009.
CHARAKA SAMITA DE AGNIVISA. Trad. Williams R. de Farias e Yeda R. de Farias. Campinas: Chakpori, s/d.
Obrigada pela lição!
Amei
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Marta,
Obrigada pela leitura e comentário! Seguimos aprendendo!!
Abração!
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